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Wednesday, January 31, 2007

Ode aos Calhordas

Cabeça de Cristo Coroada, acrílico s/tela, 81X100cm, 2002
(col. paula Rovira)
Os calhordas são casados com damas gordas
Que às vezes se entregam à benemerência:
As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas
E cumprem seu dever com muita eficiência
Os filhos dos calhordas vivem muito bem
E fazem tolices que são perdoadas.
Quanto aos calhordas pessoalmente porém
Não fazem tolices - nunca fazem nada.
Quando um calhorda se dirige a mim
Sinto no seu olho certa complacência.
Ele acha que o pobre e o remediado
Devem procurar viver com decência.
Os calhordas às vezes ficam resfriados
E essa notícia logo vem nos jornais:
"O senhor Calhorda acha-se acamado
E as lamentações da Pátria são gerais".
Os calhordas não morrem - não morrem jamais
Reservam o bronze para futuros bustos
Que outros calhordas da nova geração
Hão-de inaugurar em meio de arbustos.
O calhorda diz: "Eu pessoalmente
Acho que as coisas não vão indo bem
Pois há muita gente má e despeitada
Que não está contente com aquilo que tem".
Os calhordas recebem muitos telegramas
E manisfestações de alegres escolares
Que por este meio vão se acalhordando
E amanhã serão calhordas exemplares.
Os calhordas sorriem ao Banco e ao Poder
E são recebidos pelas Embaixadas.
Gostam muito de missas de acção de graças
E às sextas-feiras comem peixadas.
Rubem Braga