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Thursday, March 19, 2009

PRAÇA DO GIRALDO


Alentejo, Évora
(Praça do Giraldo)
acrílico s/tela, 81x100 cm
2009
(col. Licínio Oliveira)














...Em cada viela o vulto de um fantasma...
E a minh'alma soturna escuta e pasma...
E sente-se passar menina e moça...
(excerto de Poema sobre Évora, Florbela Espanca)

COIMBRA


Coimbra
acrílico s/tela, 81x100 cm
2009
(col. Cândida Ferreira)














Agora Mesmo
Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também
Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou
Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele
Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se
A Terra gira e nós também
A Terra morre e nós Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento
É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

FIGO


Figueira da Foz

acrílico s/tela, 81x100 cm
2oo9
col. Julieta Madaleno


(Poema de Alberto Pimenta)






AÇORES


Velas, S. Jorge -Açores
acrílico s/tela, 100x100 cm
2009
(Disponível)















Semântica Electrónica
Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!

Vitorino Nemésio

VISTA DA CATEMBE


Maputo
acrílico s/tela, 100x100 cm
2009
(Disponível)














POEMA MESTIÇO
escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer
Mia Couto

LISBOA


Lisboa, Alfama
acrílico s/tela, 100x100 cm
2009
(Disponível)















Lisboa
por tràs dos muros da cidadeno seu coração profundo de alicercesde argilas e de sísmicos arroios - cresce uma vozque sobe e fende a brandura das casas da escrita dos enumeráveis povos quasenada resta - deitas-te exausto na lâmina da luasem saberes que o tejo te corrói e te suprimede todas as idades da europamais além - para os lados do corpo - permanecea tosse dos cacilheiros os olhos reviradosdos mendigos - o tecto onde um navionos separa de um vácuo alimentado a soroplátanos brancos recortam-se luminescentes no olharde quem nos olha contra um céu desesperado - jardimde iris açucenas palmeiras cobertas de rocio ea ponte que nos leva aos campos do sul - lisboa lugar derradeiro do risoque já não te pode salvar do cemitério dos prazeres e morrescarregado de tristezas e de mistérios - morresalguressentado numa praceta de bairro - o olhar fixono inferno marítimo das aves

Al Berto

OLD LOVE


Porto, Douro
acrílico s/tela, 100x100 cm
2009
(Disponível)















19-20 de Maio de 1976
Sonhei com um homem que vivia amarrado a um estrado.Era um homem bom. As pessoas que passavam davam-lhe de comer.O estrado, que lembrava uma padiola, era transportado de cidade em cidade.O homem, todo envolto nos panos e cordas que o ligavam ao estrado, estava na posição de sentado, com as pernas cruzadas e os braços estendidos.Os panos que o envolviam eram muito escuros e todo o corpo estava apertado nas cordas grossas.

18-19 de Janeiro de 2003
Tive esta noite um sonho de infância.Sonhei que era perseguido. Um sonho de insegurança.Estava num salão onde havia uma grande porta, muito alta, toda chapeada a ferro e pintada com zarcão.Eu estava do lado direito da porta, contrário à abertura.Num momento vejo a porta a abrir-se muito devagar. Logo a seguir começa a aparecer uma garra preta com a forma de um neurónio, arrastando-se pela abertura da porta.Aflito, solto um grito contido e sufocado.Eu próprio ouvi este grito.Acordo ansioso.
Fernando Lanhas, in Sonhos