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Thursday, May 31, 2007

O Pior analfabeto é o analfabeto político...



The Politician, acrílico s/tela, 100X81 cm, 2005

(col. José Luís Ribeiro)










O Vosso tanque General, é um carro forte

Derruba uma floresta esmaga cem

Homens,

Mas tem um defeito

- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general

É poderoso:

Voa mais depressa que a tempestade

E transporta mais carga que um elefante

Mas tem um defeito

- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:

Sabe voar, e sabe matar

Mas tem um defeito

- Sabe pensar

Bertold Brecht

Wednesday, May 30, 2007

CAE II - Pai, afasta de mim esse cálice

A Última Ceia, acrílico s/tela, 2,50X100cm, 2006







Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muita gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Cálice
Gilberto Gil/Chico Buarque - 1973

CAE I










Exposição individual no C.A.E. (Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz)
Dezembro, 2006
Como sempre, os bons apareceram, ou seja, os meus amigos.

Tuesday, May 29, 2007

Floresta de desenganos



Amazónia,

acrílico s/tela, 100x60 cm, 1998

(col. Miguel Moreira)


"A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom steak".


"A vocação de um político de carreira é fazer de cada solução um problema".


"Às vezes perguntam-me por que trabalho tanto. É porque, quando ficar velho, quero pôr meus pais num asilo".


"Certa vez tomei a atitude política mais firme da minha vida: passei 24 horas sem comer uvas".


"Certo dia, atrasei-me ao voltar da escola e meus pais pensaram que eu havia sido sequestrado. E aí entraram imediatamente em acção: alugaram meu quarto".


"Como posso acreditar em Deus se, na semana passada, prendi a língua no rolo de minha máquina de escrever?"


"Discordo de Freud. Não acho que a inveja do pénis seja exclusiva das mulheres".


"Deus não existe e, se existe, não é muito confiável".


"É agradável, de tempos em tempos, tentar imaginar o que teria sido a existência se Deus tivesse conseguido um orçamento e roteirista melhores".


"E se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que paguei demais por aquele carpete novo".


"Em Viena, em 1906, por cinco dólares você podia ser analisado pelo próprio Freud. Por dez dólares, Freud deixaria que você o analisasse. E, por quinze dólares, ele não apenas não o analisaria como passaria suas calças a ferro".


"Eu detestaria concluir que, sem Deus, a vida não teria sentido e, depois de dar um tiro nos miolos, ler no jornal no dia seguinte que Ele foi encontrado".


"Eu e minha mulher ficamos na dúvida entre tirar férias ou nos divociarmos. Optamos pela segunda hipótese. Duas semanas no Caribe podem ser divertidas, mas um divórcio dura para sempre".


"Eu era muito jovem para ter um carro. Então transava com as moças no banco de trás de minha bicicleta".


"Faço análise há trinta anos e a única frase inteligente que já ouvi do meu analista é a de que preciso de tratamento".


"Finalmente tive um orgasmo. Mas o médico me disse que era do tipo errado".


"Fiz um curso de leitura dinâmica e li Guerra e Paz em vinte minutos. Tem a ver com a Rússia".


"Fui criado na velha tradição judaica: nunca me casar com uma mulher gentia, nunca me barbear aos sábados e, principalmente, nunca barbear uma mulher gentia aos sábados".


"Há uma lei em Nova Iorque segundo a qual só se concede um divórcio no caso de adultério de um dos cônjuges. Bem, eu me ofereci para a tarefa".


"Juro que não sabia que Hitler era nazista. Durante muito tempo pensei que ele trabalhasse para a companhia telefónica".


"Mais do que em qualquer outra época, estamos numa encruzilhada. Um dos caminhos leva à catástrofe e ao mais terrível desespero. O outro leva à extinção total. Vamos rezar para que façamos a escolha certa".


"Meu pai trabalhou na mesma empresa durante doze anos. Eles demitiram-no e substituíram-no por uma maquininha deste tamanho, que faz tudo o que o meu pai fazia, só que muito melhor .O deprimente é que minha mãe também comprou uma igual".


"Meus pais não tinham dinheiro para me comprar um cachorro. Então levaram-me a uma loja de animais e compraram-me uma pulga. Eu chamava-a Manchinha".


"Meus reflexos não são muito bons. Certa vez fui atropelado por um carro que estava sendo empurrado por dois sujeitos".


"Minha primeira mulher era muito infantil quando nos casámos. Um dia, eu estava tomando banho na banheira e ela afundou todos os meus barquinhos sem o menor motivo".


"Minhas notas na escola variaram de abaixo da média a abaixo de zero. Fui reprovado no exame de Metafísica. O professor acusou-me de estar olhando para a alma do rapaz sentado ao meu lado".


"Na Califórnia não se joga o lixo fora. Eles reciclam-no na forma de programas de TV".


"Não apenas Deus não existe, como tente encontrar um canalizador num fim de semana".


"Não despreze a masturbação - é fazer sexo com a pessoa que você mais ama".


"Não que eu esteja com medo de morrer. Eu só não queria estar lá quando isso acontecesse".


"O crime organizado na América rende 40 bilhões de dólares. É muito dinheiro, principalmente quando se considera que a Máfia quase não tem despesas de escritório".


"O mundo divide-se em pessoas boas e pessoas más. As pessoas boas têm um sono tranquilo. As pessoas más se divertem muito mais".


"Por que Deus não fala comigo? Se Ele pelo menos tossisse!"


"Por que escovar os dentes quatro vezes ao dia e fazer sexo duas vezes por semana? Por que não o contrário?"


"Quando comecei a escrever, tentei vender a história de minha vida sexual para uma editora. Eles a compraram e a transformaram num joguinho de armar para crianças".


"Quando eu era pequeno, meus pais descobriram que eu tinha tendências masoquistas. Aí passaram bater-me todo dia, para ver se eu parava com aquilo".


"Se Deus existe, por que Ele não me dá um sinal de Sua existência? Como, por exemplo, abrir uma bela conta em meu nome num banco suíço".


"Se eu acho que sexo é sacanagem? Só quando é bem feito".


"Sempre achei que iria levar anos para fracassar da noite para o dia".


"Todas as minhas tentativas de suicídio foram um fiasco. Eu vivia abrindo as janelas e fechando o gás".


"Para você eu sou um ateu; para Deus, sou a Oposição Leal".


"Você pode viver até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira viver até os cem anos."


"A única coisa que lamento na vida é que não sou outra pessoa qualquer".


"Não posso escutar muito Wagner. Fico com vontade de invadir a Polónia".

Woody Allen

Thursday, March 29, 2007

Com a Cabeça entre as Orelhas


Auto-retrato Azul, acrílico s/tela, 81X100cm, 1998

(vendido na Casa do Canto, Ancas, Anadia)















Hoje de manhã saí muito cedo
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
Alberto Caeiro

Tuesday, March 13, 2007

Igreja de Vouzela



Igreja de Vouzela
acrílico e óleo s/tela, 60X50cm, 2000
(col. Câmara Municipal de Vouzela,
1º Prémio Concurso de Pintura
ao Ar Livre, C.M.V., 2000)
















Seus Olhos
Seus olhos... se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou...
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno!...e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Almeida Garrett

Tuesday, March 6, 2007

A Carta










Cocuana, acrílico s/tela, 80X70cm, 2004



(col. Mário Costa)


















A velha dobrou as pernas como se dobrasse os séculos. Ela sofria doença do chão, mais e de mais se deixando nos caídos. Amparava-se em poeiras, seria para se acostumar à cova, na subfície do mundo?- Me leia a carta. Me entregava o papel marrotado, dobrado em mil sujidades. Era a Carta de seu filho, Ezequiel. Ele se longeara, de farda, cabelo no zero. A carta, ele a enviara fazia anos muito coçados. Sempre era a mesma, já eu lhe conhecia de memória, vírgula a vírgula.- Outra vez, mamã Cacilda?- Sim, maistravez.Sentei o papel sob os olhos, fingi acarinhar o desenho das letras. Quase nem se viam, suadas que estavam. Dormiam sob o lenço de Cacilda, desde que chegara a guerra. Essas letras cheiram a pólvora, me rodilham o coração. Era o dito da velha. Agora, passados os tempos, aquele papel era a única prova do seu Ezequiel. Parecia que só pelo escrito, sempre mais desbotado, seu filho acedia à existencia. Nas primeiras vezes eu até me procedia à leitura, traduzindo a autêntica versão do pequeno soldado. Eram letras incertinhas, pareciam crianças saindo da formatura. Juntavam-se ali mais erros que palavras. O recheio nem era maior que o formato. Porque naquela escrita não havia nem linha de ternura. O soldado aprendera a guerra desaprendendo o amor? Em Ezequiel, morrera o filho para nascer o tropeiro? Nas primeiras leituras, meu coração muito se apertava em inventadas dedicatórias aquela mãe. Enquanto lia, eu espreitava o rosto da idosa senhora, tentando escutar uma ruga de tristeza. Nada. A velha se imovia, como se tivesse saudade da morte. Seus olhos não mencionavam nenhuma dor. Eu tentava um alivio, desculpar o menino que não sobrevivera à farda. Nem se entristenha, mamã Cacilda. Também, maneira como carregaram esse menino para a tropa! Sem camisa, sem mala, sem notícia. Atirado para os fundos do camião como se faz às encomendas sem endereço.- Entenda, mamã Cacilda.Mas ela já dormia, deitada em antiquíssima sombra. Ou mentia que Dormia, debruçada na varanda da alma? Fingia, a velha. Como o rio, num açude, se disfarça de lagoa. Depois, ela regressava às pálpebras, me apressava.- Continua. Por que paraste?Já não restava nada que ler. Era só o gorduroso gatafunho, despedida Sem nenhum beijo. Pode a carta de um saudoso filho terminar assim «unidade, trabalho, vigilância»? Mas a velha insistia, cismalhava. Eu que lesse, toda a gente sabe, as letras igualam as estrelas mesmo poucas são infinitas. Eu lhe fosse paciente, pobre mãe, sem nenhuma escola. Foi então que passei a alongar aquela tinta, amolecendo as reais palavras. Inventava. Em cada leitura, uma nova carta surgia da velha missiva. E o Ezequiel, em minha imagináutica, ganhava os infindos modos de ser filho, homem com méritos para permanecer menino. Cacilda escutava num embalo, houvessem em minha voz ondas de um sepultado mar. Ela embarcava de visita a seu filho, tudo se passando na bondade de uma mentira. Diz-se na própria doideira dos vamos loucurando. Até, um dia, me trouxeram notícia. Ezequiel perdera, para sempre, a existencia. Ele se desfechara em incógnitos matos, vitima dos bandos. A mãe nem suspeitava. Perguntei desconhecia-se o paradeiro dela. Ficasse eu atribuido de lhe entregar o escuro anúncio. Esperei. Nesse fim de tardinha, porém, mamã Cacilda não compareceu em minha casa. Assustei adivinhara ela o destino do Ezequiel? Quem conhece os poderes de uma mãe em exercicio de saudade? Decidi ir ao seu lugar. Parti ainda restavam manchas do poente. Cacilda cozinhava uns míseros grãos, ementa de passarinho.- Senta, meu filho, fica servido, não custa dividir pobrezas.Fui ficando, me compondo de coragem. Como podia eu deflagrar aquele luto? Comemos. Melhor fingimos comer. Faz conta é uma refeição, meu filho. Faz conta. Modo que eu vivo, fazendo de conta.- E agora, diz porque vieste nesta minha casa?Olhei o chão, o mundo escapava pelo fundo. Ela venceu o silêncio.- Me vens ler o meu filho?Acenei que sim. Aceitei o velho papel mas demorei a começar. Eu queria acertar os meus tons, evitando o emergir de alguma tremura. Finalmente, atravessei a escrita, ao avesso da verdade. Trouxe as novas do filho, seus consecutivos heroísmos. Ele, o mais bravo, mais bondoso, mais único. Como sempre, a mãe escutou em qualificado silêncio. Às vezes, no colorir de um parágrafo, ela sorria sempre igual, esse meu filho. Eu me parabendizia, cumprida a missão do fingimento. Me despedi, quase em alívio. Foi então, em derradeiro relance, que eu vi a velha mãe lançava a carta sobre a fogueira. Ao meu virar, ela emendou o gesto. O papel demorou um instante a ser mastigado pelo fogo. Nesse brevíssimo segundo, eu anotei a lágrima pingando sobre a esteira. Ela fingiu tirar um fumo do rosto, fez conta que metia a carta sob o lenço. Me voltei a despedir, fazendo de conta que aquele adeus era igual aos todos que já lhe concedera.


Mia Couto

Wednesday, February 28, 2007

Amiga


Cabeça de Cristo, acrílico s/tela, [1998]


(col. Graça Marques)













Mal nos conhecemos


Inauguramos a palavra amigo!


Amigo é um sorriso


De boca em boca,


Um olhar bem limpo


Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.


Um coração pronto a pulsar


Na nossa mão!


Amigo (recordam-se, vocês aí,


Escrupulosos detritos?)


Amigo é o contrário de inimigo!


Amigo é o erro corrigido,


Não o erro perseguido, explorado.


É a verdade partilhada, praticada.


Amigo é a solidão derrotada!


Amigo é uma grande tarefa,


Um trabalho sem fim,


Um espaço útil, um tempo fértil,


Amigo vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill






Saturday, February 24, 2007

Homenagem a Alberto Pimenta II



Descobrimentos, acrílico s/tela, 130X89cm, [1998]

(col. Carlos Tenreiro)

I

O pequeno filho-da-puta é sempre um pequeno filho-da-puta;mas não há filho-da-puta,por pequeno que seja,que não tenha a sua própria grandeza,diz o pequeno filho-da-puta.no entanto, há filhos-da-puta que nascem grandes e filhos-da-puta que nascem pequenos, diz o pequeno filho-da-puta.de resto,os filhos-da-puta não se medem aos palmos, diz ainda o pequeno filho-da-puta.o pequeno filho-da-puta tem uma pequena visão das coisas e mostra em tudo quanto faz e diz que é mesmo o pequeno filho-da-puta.no entanto,o pequeno filho-da-puta tem orgulho em ser o pequeno filho-da-puta.todos os grandes filhos-da-puta são reproduções em ponto grande do pequeno filho-da-puta,diz o pequeno filho-da-puta. dentro do pequeno filho-da-puta estão em ideia todos os grandes filhos-da-puta,diz o pequeno filho-da-puta.tudo o que é mau para o pequeno é mau para o grande filho-da-puta,diz o pequeno filho-da-puta.o pequeno filho-da-puta foi concebido pelo pequeno senhor à sua imagem e semelhança,diz o pequeno filho-da-puta.é o pequeno filho-da-puta que dá ao grande tudo aquilo de que ele precisa para ser o grande filho-da-puta,diz o pequeno filho-da-puta.de resto, o pequeno filho-da-puta vê com bons olhos o engrandecimento do grande filho-da-puta:o pequeno filho-da-putao pequeno senhor Sujeito Serviçal Simples Sobejo ou seja,o pequeno filho-da-puta.


II


O grande filho-da-puta também em certos casos começa por ser um pequeno filho-da-puta,e não há filho-da-puta, por pequeno que seja, que não possa vir a ser um grande filho-da-puta,diz o grande filho-da-puta.no entanto,há filhos-da-putaque já nascem grandes e filhos-da-puta que nascem pequenos, diz o grande filho-da-puta.de resto,os filhos-da-puta não se medem aos palmos, diz ainda o grande filho-da-puta.o grande filho-da-puta tem uma grande visão das coisas e mostra em tudo quanto faz e diz que é mesmo o grande filho-da-puta.por isso o grande filho-da-putatem orgulho em ser o grande filho-da-puta.todos os pequenos filhos-da-puta são reproduções em ponto pequeno do grande filho-da-puta,diz o grande filho-da-puta.dentro do grande filho-da-puta estão em ideia todos os pequenos filhos-da-puta,diz o grande filho-da-puta.tudo o que é bom para o grande não pode deixar de ser igualmente bom para os pequenos filhos-da-puta,diz o grande filho-da-puta.o grande filho-da-puta foi concebido pelo grande senhorà sua imagem e semelhança,diz o grande filho-da-puta.é o grande filho-da-puta que dá ao pequeno tudo aquilo de que ele precisa para sero pequeno filho-da-puta,diz o grande filho-da-puta.de resto,o grande filho-da-puta vê com bons olhos a multiplicação do pequeno filho-da-puta:o grande filho-da-putao grande senhor Santo e Senha Símbolo Supremo ou seja,o grande filho-da-puta.


[Alberto Pimenta]

Homenagem a Alberto Pimenta I


Kasbah, acrílico s/tela,130X89, [1995]

(col. Paula Rovira)









artur hipólito morreu com 62 anos, 20 anos após ter feito 42, mas na altura quem diria?/


heitor fragoso morreu atropelado.foi levado para o hospital, mas esqueceram-se duma parte do corpo no local do acidente./


manuel testa morreu sem se ter conseguido habituar a este modode mal-estar no mundo./


arnaldo rodrigues caiu a um buraco da canalização e nunca mais foi visto./


jeremias cabral pôs termo à existência por motivos desconhecidos./


zeca gomes morreu em defesa da pátria mas a pensar noutra coisa./


antónio de oliveira morreu igual a si mesmo: triste sinal dos tempos!/


bernardo leite pôs-se a pensar na morte e não conseguiu voltar atrás./


ivo gouveia tinha uma agência funerária e escolheu para si um caixão representativo./


guilherme silva fechou-se no sótão, para morrer num lugar elevado./


luís dimas respirava saúde, agora respira um hálito de eternidade./


antónio garcia, o coveiro, teve uma síncope e caiu dentro da cova que estava a abrir./


bento nogueira engasgou-se com um pedaço de carne e desapareceu do nosso convívio./


paiva de jesus enforcou-se./


joão baptista viu o cunhado levantar-se do caixão e teve uma síncope./


lourenço pinheiro estava a ver atrovoada e um relâmpago entrou-lhe por um olho e saiu-lhe pelo outro./


jorge velez de castro finou-se após uma longa vida de sacrifícios, toda dedicada ao bem-comum. e foi assim: depois de ter ingerido o seu sumo de laranja, foi conduzido para a cadeira de repouso pelo enfermeiro de confiança. nela se conservou, de boca entreaberta e olhos fechados, até às onze horas. às onze horas, o enfermeiro de confiança aproximou-se com a intenção de o conduzir ao banho. pondo delicadamente a mão nas costas da cadeira, disse: são horas do banho, senhor director. como este não desse sinal de ter ouvido, o enfermeiro de confiança, com a costumada jovialidade, debruçou-se e repetiu: são horas do banho, senhor director. posto isto, empurrou a cadeira até ao balneário, passou um braço pelos rins outro por baixo dos joelhos do director, e assim o levou para a água, só então se dando conta de que ele já não vivia./


zé maria, o peidolas, foi expulso da vida pela autoridade competente./


joão gaspar foi um nobre e valoroso homem que morreu heroicamente no campo da honra. paz à sua alma./


raul santos deitou-se um dia e por mais que o sacudissem nunca mais se levantou./


alfredo penha caiu tão desastradamente da cama que nem é possível dar pormenores da sua morte./


joaquim perestrelo morreu no meio da missa, qual quê! ainda a missa não ia a metade!/


sousa dias morreu de pé, mas enterraram-no deitado, como toda agente.



Alberto Pimenta, Fastos III

Bernardo Soares



Fernando Pessoa, óleo s/cartão, 100X70cm, [1998]

(col. Miguel Moreira)















Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.


Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

Neon


Cabeça de Cristo, acrílico s/tela, 100X81cm, [1999)


(col. Colégio de Quiaios)













Finge

Que não

Estás morta

Nem escondida

Na penumbra

De um neon

Colorido.

Púrpura,

Etéreo,

Etílico,

Sirílico,

Nem preto

Nem branco.

Tuesday, February 6, 2007

Poeira Có(s)mica

Tierra Ensangrentada, 60X100cm,1998
(col.José Luís Ribeiro)











(...)

Compreende-se.

Mais Império, menos império.

mais faraó, menos faraó,

será tudo um vastíssimo cemitério,

cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.

Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

António Gedeão

Monday, February 5, 2007

Teias e Caras


Teias e Caras, acrílico s/tela, 3550cm, 2006
(col. Carlos Fernandes)
(...)
Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.
Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como água explodindo em convulsão
Onde é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como lua parindo desilusão (...)
Vinicius de Moraes

Thursday, February 1, 2007

Canção da Cidade Adormecida



Coimbra, óleo s/tela, 100X100cm, 2005

(col.Mário Mourato)

Diz-me tu ó cidade...

Em que sonhos no teu ventre

guardas

Essas capas de liberdade

Se na revolta da mocidade

Não há cavalos nem espadas.

Diz-me tu ó cidade

Em que desenganos me embalas?

Se adormecendo a saudade,

Lhe vais roubando a eternidade

Que cruelmente me calas!

Diz-me tu ó cidade...

Porque desarrumas meu peito?

Se vence em mim o teu rio,

Que espera que passe um navio

De sonhos e mágoas refeito.

Eduardo Filipe

Wednesday, January 31, 2007

O Despero da Piedade!


Cristo Quixotesco, acrílico s/tela, 40X60 cm, 2003
(col. Galeria O Rastro)
Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos.....
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direcção.
Tende piedade das famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina
Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costoletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando, nadando para a morte.
Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuosos da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.
Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.
Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão....
Tende piedade dos barbeiros em geral. e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!
Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapateira
Quem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor
Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.
Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei Senhor, com que deles não saiam políticos também. (...)
Vinicius de Moraes

Ode aos Calhordas

Cabeça de Cristo Coroada, acrílico s/tela, 81X100cm, 2002
(col. paula Rovira)
Os calhordas são casados com damas gordas
Que às vezes se entregam à benemerência:
As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas
E cumprem seu dever com muita eficiência
Os filhos dos calhordas vivem muito bem
E fazem tolices que são perdoadas.
Quanto aos calhordas pessoalmente porém
Não fazem tolices - nunca fazem nada.
Quando um calhorda se dirige a mim
Sinto no seu olho certa complacência.
Ele acha que o pobre e o remediado
Devem procurar viver com decência.
Os calhordas às vezes ficam resfriados
E essa notícia logo vem nos jornais:
"O senhor Calhorda acha-se acamado
E as lamentações da Pátria são gerais".
Os calhordas não morrem - não morrem jamais
Reservam o bronze para futuros bustos
Que outros calhordas da nova geração
Hão-de inaugurar em meio de arbustos.
O calhorda diz: "Eu pessoalmente
Acho que as coisas não vão indo bem
Pois há muita gente má e despeitada
Que não está contente com aquilo que tem".
Os calhordas recebem muitos telegramas
E manisfestações de alegres escolares
Que por este meio vão se acalhordando
E amanhã serão calhordas exemplares.
Os calhordas sorriem ao Banco e ao Poder
E são recebidos pelas Embaixadas.
Gostam muito de missas de acção de graças
E às sextas-feiras comem peixadas.
Rubem Braga

O Dia da Criação



Young Christ, acrílico s/tela, 35X50 cm, 2006

(disponível)

Hoje é sábado, amanhã é domingo

A vida vem em ondas, como o mar

Os bondes andam em cima dos trilhos

E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo

Não há nada como o tempo para passar

Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo

Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo

Amanhã não gosta de ver ninguém bem

Hoje é dia de presente

O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade

Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios

Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas

Todos os maridos estão funcionando regularmente

Todas as mulheres estão atentas

Porque hoje é sábado. (...)

Vinicius de Moraes

Friday, January 26, 2007

Nevoeiro

Cristo Navegador, acrílico s/tela,81X100cm, 2005

(col.Guida Cândido)




Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,/


Define com perfil e ser/


Este fulgor baço de terra/


Que é Portugal a entristecer-/


Brilho sem luz e sem arder,/


Como o que fogo-fátuo encerra./


Ninguém sabe que coisa quere/


Ninguém conhece que alma tem/


Nem o que é mal nem o que é bem./


(Que ânsia distante perto chora?)/


Tudo é inceto, nada é inteiro./


Ó Portugal, hoje és nevoeiro.../


É a Hora!





Fernado Pessoa

Crucificação


I R S, acrílico s/tela,81X100cm,2005
(disponível)




Vertical sou contra Deus.

Horizontal a favor.

Nesta cruz me crucifico.

Vertical com desepero.

Horizontal com amor.



Natália Correia

Vozes do Mar


Cabo Mondego, acrílico s/tela, 81X100cm, 2002
(col. Mário Mourato)
Quando o sol vai caindo sobre as águas/
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,/
Donde vem essa voz cheia de mágoas/
Com que falas à terra, ó mar imenso?...//
Tu falas de festins, e cavalgadas/
De cavaleiros errantes ao luar?/
Falas de caravelas encantadas/
Que dormem em teu seio a soluçar?//
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios/
D'amarguras? Tu tens também receios,/
Ó mar cheio de esperança e majestade?!//
Donde vem essa voz, ó mar amigo?.../
...Talvez a voz de Portugal antigo,/
Chamando por Camões numa saudade!
Florbela Espanca, Poesia Completa
Lisboa, Publicações D. Quixote, 2000

Tuesday, January 23, 2007

Melancia / Melão

Árabe, acrílico s/tela, 60X80cm, 2005

(col. do autor)
















Incongruência / Contradição
Veemência / Contravenção
Eloquência / Vaporização
Ignorância / Contaminação
Gerência / Masturbação
Sapiência / Direcção
Inconsequência / Ejaculação
Cedência / Capitulação
Credência / Cadeirão
Clemência / Canonização
Maledicência / Vacinação
Saliência / Foguetão
Carência / Anulação
Insignificância / Situação
Paciência / Trepanação
Cartomância / Castração
CIA / Cão
Dissidência / Deportação
Displicência / Mastreação
Dissonância / Ablação
Extravagância / Extradição
Fragrância / Exumação
Ganância / Saturação
Existência / Extinção
Jactância / Ebulição
Dependência / Escaldão
Delícia / Precaução
Deliquescência / Desagregação
Deliquência / Exultação
Arborescência / Razão
Estância / Declaração
MELANCIA!
MELÃO!
















Friday, January 19, 2007

Teias e silêncios


Paisagem, acrílico s/tela, 170X70cm, 2006
(col. Exército Português)
Ideia vaga
Memória
Longínqua
Arma
Arremessada
Boomerang
Lançado
Ao espaço
Medido
Por
Um
Tempo
Desperdiçado.

Thursday, January 18, 2007

Porcelana


Alentejana, acrílico s/tela, 60X80cm, 2004
(col. J.Paulo Santos)
Fada branca
Olhar meigo
E físico,
Gestos
Esvoaçantes.
Asas
De
Vaso
Chinês.

Sonhar

Camões, acrílico s/tela, 60X80cm, 2004

(disponível)
















Levito e
Varro em
Voo
Picado
O
Convés
Quando
Uma
Forte
Luz
Me
Bate em
Cheio
Na
Bússola e
Me
Avaria o
Norte.

Tuesday, January 16, 2007

Álvaro


Pessoa, acrílico s/tela, 35X50cm, 2006
(disponível)
São vinte e três horas e vinte e sete minutos quando estaciono no largo da pequena capela em Buarcos.
A noite é longa e festiva.
A noite é de S.João aqui na terra e na Figueira.
Saio do carro, bato a porta, assusto alguns noitibós e pardais que arrastam asas, debicando furiosamente em latas de cerveja que, aos milhares, cobrem a estrada, o chão, as mesas das esplanadas.
Com a bota esquerda, esmago metodicamente dois noitibós.
Com a bota do pé direito, e de um só golpe, varro com eficiência três pardais. Um, ainda rosnou. ...

Ricardo


Pessoa, acrílico s/tela, 35X50cm, 2006

(col. Alfredo Vieira)


O
Catavento
Gira sobre
Quatro pontos cardeais.
Tem
Um
Ponteiro
Ao
Centro
Que
É
Certeiro
Tal agulha de cristal.
O vento
É ligeiro
E brejeiro:
Ao
Catavento
Não pode fazer mal!

As Ocarinas



Underground, acrílico s/tela, 50X60cm, 2ooo

(col.Galeria O Rastro)

Passa a banda

Passa o bombo

Toca o samba

Assusta o pombo

P'lo ar a baquette

Estilhaço de coração

E o clarinete

De tromba negra p'ró chão

Passam as ocarinas

Vestidas a rigor

Da cor das tangerinas

Sabem as modas de cor

Normais e normalizadas

Casuais e bem casadas!

Monday, January 15, 2007

Alberto Caeiro



Pessoa, acrílico s/ tela, 35X50cm, 2006

(col. Guida Cândido)










Sou e sei



De mim



Engeitado



Estacionado



Em parcómetro



Aprazado



Observado



Por palhaços



Enfeitados



Semelhantes



A espantalhos. ...


















Gelo

Ice Age, acrílico e óleo s/tela,
150X70cm, 2006

(disponível)









PERIGO!!!
CAMPO DE MINAS!
(É FAVOR NÃO ESTACIONAR)

Padrão

Cabeça de Cristo, acrílico s/tela, 81X100cm, 2002
(col. Paula Rovira)



Com o correr
Dos anos
Vou sendo
De ti
Conquista,
Colónia
De perigos e guerras
Esforçados
Em madrugadas
De padrões
Plantados
Por mim.

Palmeiras




Alentejo, acrílico s/tela, 81X100cm, 2004
(col. José Tarrafa)











Uma débil brisa de Noroeste varre completamente a cidade da Figueira da Foz, dobrando duas palmeiras até ao passeio, onde se aprumam alinhadas e orgulhosas de seus portes altivos e da importância das suas raízes.

Resolvem todavia acabar de vez com aquela estática posição de há uns anos, contemplativa de mais para os seus gostos de palmeiras africanas, ainda com o arrojo e a aventura marcados nos seus genes.

Transplantam-se, e eufóricas, serpenteiam em linha recta até ao Cabo Mondego, onde finalmente respiram aquele ar puro e carregado de cal, acabada de extrair da encosta solarenga da serra e que lhes avivam as seivas.

Kid Crioulo



O Espanto, acrílico s/tela, 40X60cm, 2006


(col. José Luís Ribeiro)





No saloon, o ar fica de se cortar à faca quando entra Kid Crioulo, perigoso pistoleiro a soldo, mercenário nas horas vagas.


Os clientes, aterrados com aquela entrada, dão vários passos para trás, puxando as culatras à frente, engolindo em seco seis vezes, número equivalente à capacidade do tambor do revolver de Kid.


Alguns dos frequentadores estão corajosamente sentados sobre os seus próprios suores, enquanto outros vão entoando cantos gregorianos como que adivinhando a proximidade de um fim.


Kid chega-se ao balcão e vocifera tenebroso:


- Quero um galão fraquinho e uma torradinha com pouca manteiga, por favor...

Friday, January 12, 2007

O Candidato



Ferido de Constitucionalidade,

acrílico s/tela,81X100cm, 2005

(col.Mário Mourato)

O Candidato

Perfila-se

E

Mede

A Distância

Que

O

Separa

Da

Meta

Que

O

Meta

Na

Corrida

De

Cabeça

Na

Lista. ....