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Friday, August 1, 2008

Quando o meu crânio for de vento...




Cabeça de Cristo, Acrílico s/tela,
2008, 80x40 cm
(col. José Marques Tarrafa)













QUANDO MEU CRÂNIO FOR DE VENTO

Quando meu crânio for do vento
Quando o verde cobrir meus ossos
Sentirão talvez que um troço
Mas será falso o sentimento
Pois me faltarão os atos
O elemento plástico Pl´plá plástico
Devorado pelos ratos
Meu par de utensílios
Minhas pernas meus joelhos
Minhas coxas meus fundilhos
Sobre os quais me sentavia
Meus cabelos minhas fístulas
Meus lindos olhos cerúleos
Minhas capas de mandíbulas
Com as quais vos lambuzia
Meu nariz considerável
Coração, fígado, lombo
Esses nadas amigáveis
Que me fizeram gozar os benefícios
De duques e duquesas
Abades e abasnezas
E demais pessoas do ofício
E agora não terei mais
Esse fósforo um pouco mole
Cérebro que me serviu
Pra prever depois de frio
Os ossos verdes, o crânio ventoso
Ah como dói ficar idoso.

Boris Vian (tradução de Ruy Proença)

Alentejo, terra aberta





Paisagem
Acrílico s/tela
120x60 cm, 2008 (col. José Marques Tarrafa)





Máquina do Mundo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto é matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão